quinta-feira

Não tenho mais tempo, o tempo ficou apenas diferente!

Com a certeza de que é preciso continuar  faço um esforço diário e incorporo o que tenho de aceitar como "normalidade", nas minhas rotinas diárias, sem grandes sacrifícios mas com alguma preocupação em relação à família.
Com a certeza de que é preciso continuar, tento não me atormentar mantendo as mãos ocupadas. Mas as agulhas direccionam o meu pensamento para os dias do longo internamento em que troquei ideias de bainhas abertas e bordados com enfermeiras pacientes e conversei com médicos dedicados acerca da perfeição dos seus pontos e de formas da recuperação da minha motricidade fina. Enfim, memórias positivas que consigo ter desses dias graças a médicos e enfermeiras/os formidáveis que tive, que temos e que hoje lutam por todos nós. Revolta-me saber que há quem não fique em casa desrespeitando todos os que estão na linha da frente empenhados em defender a nossa saúde!
Talvez por isto e por muito mais, a minha concentração esteja sempre a ser testada e consecutivamente falho. Estando de férias de Páscoa e fechada em casa, aparentemente teria mais tempo, mas não, não tenho mais tempo. Tenho apenas um tempo diferente, uma interrupção, que coloca na minha frente um caminho novo.
Este "tempo diferente" que poderia ser de horas a fio dedicadas a criatividade, tem sido preenchido pela monótona repetição de pontos de meia e liga, tecendo peças em malha para o neto que nascerá em Maio. Hoje tenho nas agulhas um casaquinho com um padrão que tem sido um consolo e, como sigo parcialmente umas instruções, consigo envolver o pensamento numa ténue criatividade. Ainda assim, quando fico cansada da repetição do esquema e me apetece brincar com cores, salto para o Sampler a ponto de cruz.

Depois de Tudo
De tudo ficaram três coisas:
A certeza de que estamos sempre a começar...
A certeza de que é preciso continuar...
A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar

Portanto devemos:
Fazer da interrupção um caminho novo...
Da queda, um passo de dança...
Do medo, uma escada...
Do sonho, uma ponte...
Da procura, um encontro.

Fernando Sabino, trecho adaptado de III- O Escolhido, do livro O Encontro Marcado

quarta-feira

Yarn-Along April

O modelo da esquerda foi criado e tricotado pela minha mãe

Ginny com a iniciativa da rubrica Yarn-Along, é responsável por esta  minha rotina mensal, partilhar os projectos de malha e leituras, desta vez no meu primeiro dia de férias de Páscoa.
Malha
Tenho nas agulhas um projecto a que dei o nome de Verde Esperança, utilizando fio Olívia, sobra de um colete que fiz para mim. As instruções da Petit Knit são muito claras e simples. Como estou a aproveitar um fio que tinha em casa tenho de ir verificando o tamanho com um modelo que a minha mãe fez para o meu filho.
O cão já está na fase de enchimento e costura, ficando a faltar-lhe uma camisola e calças.
Livros
Sempre me interessei por outras culturas/religiões e, sentindo-me fortemente interessada em patchwork, curiosa nas suas mais diversas formas, e motivada para novas aprendizagens, decidi encomendar How to make and Amish Quilt, na Amazon, após ter lido os comentários ao mesmo. Não me decepcionou, antes pelo contrário, estou a adorar e mesmo que não faça nenhum dos projectos, em teoria aprendi imenso e satisfiz, parcialmente, a sede de aprender.
Do país vizinho chegou lã feltrada e o livro Folk-Tails da Sue Spargo, um livro fantástico! O projecto é muito ambicioso mas, o que estou a pensar fazer, são pequenos quadros para colorir um quarto de criança.
Aproveito para partilhar que a Sue Spargo está a publicar diariamente vídeos, com instruções de diversos pontos no Instagram, para ajudar a passar a quarentena a quem gosta de linhas e agulhas.  
Leio e releio The Boy, the Mole, the Fox and the Horse, um livro fabuloso, tentando perceber se, de alguma forma, poderá ser adaptado a um painel bordado, com patchwork.
As filhas do Capitão só comecei a ler ontem e pouco posso adiantar, mas gosto da escrita de Maria Buenas.

Séries e filmes
Além dos episódios da Rosemary and Tyme, no youtube, sigo atentamente um policial no HBO, Liar.
Também na HBO, vi o filme Temple Grandin, o testemunho de vida de uma autista. Um filme interessante, pelo menos para mim, enquanto professora de alguns alunos do ensino especial (apesar de não ter feito formação nessa área!).

Não vou terminar com "Tudo vai ficar bem" palavras que, ao fim de quase três semanas de isolamento, de muito stress pessoal e profissional, estou cansada de ouvir! Um texto motivador vinha a calhar e, se quisesse ter mais seguidores, seria a receita ideal, mas não procuro seguidores e não sei procurar as palavras certas. Também não vou escrever sobre como me sinto, não o saberia fazer. Apenas confesso que não estou a fazer exercício diariamente, não me arranjo como se fosse para a rua, não faço sumos especialmente ricos em vitaminas e minerais, não telefono diariamente a um amigo, não faço nada daquilo que vejo nas redes sociais. E sabem que mais? Não me sinto menos capaz de enfrentar este desafio! A única regra que sigo, das que são constantemente divulgadas, é a consulta das notícias apenas uma vez por dia, para manter a minha sanidade mental. Quem me acompanha aqui desde o início do isolamento, após esta confissão, é gritante a alteração do meu estado "de espírito". Apetece-me dizer palavrões porque as palavras não são suficientemente fortes, não aliviam. Sou de riso e de lágrima fácil, imaginem como ando! Mas quem fica indiferente a tudo isto?
Não vou pedir desculpa pelo desabafo. Poderão pensar que neste contexto não faz muito sentido, mas estou aliviada! Em contrapartida espero que os mais pacientes, que leram até aqui, tirem algum proveito das restantes partilhas.
Estes dias provaram que tenho razão em querer sair da cidade, o que me levou a reactivar o anúncio de venda da nossa casa, numa altura que não faz nenhum sentido, mas nunca se sabe!