quinta-feira

Não tenho mais tempo, o tempo ficou apenas diferente!

Com a certeza de que é preciso continuar  faço um esforço diário e incorporo o que tenho de aceitar como "normalidade", nas minhas rotinas diárias, sem grandes sacrifícios mas com alguma preocupação em relação à família.
Com a certeza de que é preciso continuar, tento não me atormentar mantendo as mãos ocupadas. Mas as agulhas direccionam o meu pensamento para os dias do longo internamento em que troquei ideias de bainhas abertas e bordados com enfermeiras pacientes e conversei com médicos dedicados acerca da perfeição dos seus pontos e de formas da recuperação da minha motricidade fina. Enfim, memórias positivas que consigo ter desses dias graças a médicos e enfermeiras/os formidáveis que tive, que temos e que hoje lutam por todos nós. Revolta-me saber que há quem não fique em casa desrespeitando todos os que estão na linha da frente empenhados em defender a nossa saúde!
Talvez por isto e por muito mais, a minha concentração esteja sempre a ser testada e consecutivamente falho. Estando de férias de Páscoa e fechada em casa, aparentemente teria mais tempo, mas não, não tenho mais tempo. Tenho apenas um tempo diferente, uma interrupção, que coloca na minha frente um caminho novo.
Este "tempo diferente" que poderia ser de horas a fio dedicadas a criatividade, tem sido preenchido pela monótona repetição de pontos de meia e liga, tecendo peças em malha para o neto que nascerá em Maio. Hoje tenho nas agulhas um casaquinho com um padrão que tem sido um consolo e, como sigo parcialmente umas instruções, consigo envolver o pensamento numa ténue criatividade. Ainda assim, quando fico cansada da repetição do esquema e me apetece brincar com cores, salto para o Sampler a ponto de cruz.

Depois de Tudo
De tudo ficaram três coisas:
A certeza de que estamos sempre a começar...
A certeza de que é preciso continuar...
A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar

Portanto devemos:
Fazer da interrupção um caminho novo...
Da queda, um passo de dança...
Do medo, uma escada...
Do sonho, uma ponte...
Da procura, um encontro.

Fernando Sabino, trecho adaptado de III- O Escolhido, do livro O Encontro Marcado

1 comentário:

Unknown disse...

Fantástica reflexão sdo presente sobre o olhar do passado. InspirafInspirador or