terça-feira

O Ponto de cruz, a grande encruzilhada do imaginário



No momento em que conheci a Rebecca, da Hedgerow Stitching voltei ao ponto de cruz! Será que sou facilmente influenciável pelas redes sociais, ou serei inspirada com os trabalhos que vejo? A verdade é que retomei um Sampler há muito guardado, como se pode ver pelas datas que fui escrevendo no kit, tendo ido mais longe ao adquirir dois pdfs de esquemas de ponto de cruz

Experimentei envelhecer linhos com café e chá, após ter visto os linhos da Rebecca.



Optei por não bordar no linho tingido, estando a bordar numa peça que já tinha, semelhante às que adquiri hoje na Trapos e Rendas.

Estes dois linhos serão para futuros trabalhos.

O regresso ao ponto de cruz apontou-me a estante de livros para os quais há muito não olhava (farei um vídeo para partilhar alguns dos livros, semelhante ao deste livro). Viajando no tempo, sorri ao recordar uma exposição a que fui há anos e onde adquiri o livro que me ensinaria parte da História do ponto de cruz e de onde retiro os seguintes excertos:

Ao londo da vida muito bordou (...) E sempre o seu pensamento voou de lembrança em lembrança, de recordação em recordação. E à medida que o tempo avançava a sua imaginação tornara-se cada vez mais prodigiosa, cruzando fios, cores, tons, matizes e sobretudo cruzando a vida, o destino, o desconhecido. (...)

Tecer/bordar é realmente um trabalho lunar, pois para o executar é necessário reunir vários "ingredientes" comuns ao feminino.

Brandura para que os pontos saiam perfeitos. Paciência para que o tempo não seja um entrave. Sensibilidade ao jogo de tons e cores para que o trabalho surja harmonioso e com graça. Doçura para reiniciar cada dia o trabalho abandonado na véspera. Persistência para não se deixar abater pelo cansaço e levar a acabo o trabalho começado.Interioridade para que a brandura, a paciência, a sensibilidade, a doçura e a persistência activem a prodigiosa imaginação, para que esta "re-crie" continuamente formas arquétipicas existentes na sua memória ancestral. (...)

E ela tinha também mais uma vez bordado as suas margaridas...Afinal com elas tinha tecido o seu destino...":

E os dedos corriam sobre o pano cruzando o fio á esquerda e à direita, tirando efeitos mágicos com as matizes dos diversos tons, enquanto o pensamento voava para longe. Novamente a agulha oi enfiada e o trabalho recomeçado ao ritmo dos pensamentos e recordações dos seus muitos encontros com o destino. 

No mesmo livro há referências às camisolas Poveiras:

As de cor castanha, mais adequadas às árduas fainas do mar, agasalhando e protegendo o pescador constituíam parte da roupa de polé, isto é, de trabalho. As brancas pelo contrário, decoradas com desenhos alusivos à temática piscatória e marítima, estavam reservadas para serem usadas em terra, em ocasiões especiais.

Quem começou a bordá-las a ponto de cruz? Possivelmente, segundo Santos Rocha, os velhos Lobos do Mar, que também marcavam outras peças de vestuário. Posteriormente foram as mulheres (...) começaram a dedicar-se a bordá-las, aparecendo, então, desenhos muito belos, bordados (...)

Um dia quero fazer uma camisola Poveira, provavelmente para a minha afilhada Leonor, uma apaixonada pelo mar e barcos.

A propósito de malha, a Rebecca, também tem um gosto muito semelhante ao meu, tendo tricotado algumas peças que também já tricotei. Estarei atenta às suas escolhas que, no futuro, poderão também ser as minhas escolhas.

 Outra podcaster que há anos me cativou e influenciou, quer na malha, quer noutros trabalhos de mão, foi a Sarah. Faço das suas palavras, do  último episódio, as minhas palavras, quando diz que a criatividade conecta tempo e espaço. Nem mais!

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