Com o meu filho em Inglaterra, a casa ficou vazia, a sua ausência deixa um vazio silencioso, que tento preencher com horas a fio, ao ritmo melodioso das agulhas.
Luna (Lua em latim), a cadela resgatada no Monte da Lua, que me cobre de mimos o tempo todo e que exige atenção o tempo todo!
Neste centro de mesa ainda não decidi se dou por terminado ou se acrescento uns pontos decorativos, à semelhança do que fiz nesta almofada, bordada a ponto de cruz.
De malha vou fazendo mais um casaco para mim, para dar destino a meadas e novelos antigos e ter algo para estrear no aniversário da minha filha Madalena ou no Dia da Mãe.
Todas as noites, na cabeceira espera por mim, a história da Zoe, de fácil leitura e com ela regresso às Terras Altas da Escócia, conseguindo desligar da falta que sinto dos sons de uma casa cheia.
Antes de viajar o António fez um novo abrigo para as galinhas. Neste os cães, e possíveis predadores, não conseguem rebentar com a rede! Ficou só a faltar a fechadura
Antes de viajar, ofereceu-nos o trabalho que andou a fazer em madeira.
Um guerreiro para ter presente que o meu filho foi à luta, encontrar o seu caminho. Tenho de enganar a tristeza da saudade com a felicidade da certeza que encontrará o que tanto anseia.
Louceiro português antigo, recuperado e limpo durante as férias da Páscoa
Quando não viajo, nas pausas lectivas, para não andar a bater com a cabeça nas paredes, tento ocupar os meus dias com aquilo que mais gosto de fazer e os resultados estão à vista. Durante as férias da páscoa fiz uma camisola de meia estação, terminei a manta das aprendizagens, avancei bastante no mini projecto de EPP e applique e nodesenho a ponto de cruz.
Com a Emma reaprendi Binding, tendo seguido o seu passo-a-passo.
Ficou por decidir se dou caminho a estas meadas antigas fazendo um ponto decorativo, como a Emma sugere. Por via das dúvidas adquiri as agulhas que facilitam a execução de um ponto regular.
Projecto ainda em mãos
Adoro EPP e applique, considerando uma das melhores formas de aproveitamento de sobras de tecido, de relaxamento e de criação de peças únicas. Com aEmmaé extremamente fácil aprender EPP! Este projecto adquiri há um tempo na Sew&Quilt. Inspirada pelos trabalhos da Emma fiquei com vontade de adquirir o kit para a manta de Lucy Boston!
Comecei com pequenos projectos, como forma de treino, tendo-se tornado um vício, o que me levou para projectos maiores, como a colcha "Queens Walk", que espero iniciar assim que receber os tecidos e o papel que foram enviados para casa da minha filha expatriada.
Quanto ao ponto de cruz, tenho cometido muitos erros por falta de vista e muita distração, sendo um projecto que pretendo fazer nos intervalos das aulas, na recta final de mais uma ano lectivo. Anos de prática dão-me segurança e facilidade de detectar e corrigir erros. Ainda tenho alguns projectos que quero fazer para esta nova casa, entre a Serra e o Mar.
Sonhei com a reforma e com a possibilidade de partir em viagem guiada por livros, como estes. Infelizmente, a situação actual dos professores e do nosso país impede-me de sonhar alto, de planear uma reforma em que possa viver plenamente, como recompensa de anos de dedicação ao ensino. O melhor é tentar continuar a fazer uma ginástica em termos de poupança, com grandes acrobacias, para no final conseguir uma reforma, no mínimo, digna.
Talvez consiga ter tempo para descer o rio de Avon utilizando os desenhos do início dos capítulos para traçar com linhas e agulhas, em linho, o que me fará também feliz embora de uma forma diferente. Nada como caminhar nas margens de um rio, nas aldeias que o ladeiam, trocando experiências com os locais e deslumbrando-me com a natureza!
Experimentei envelhecer linhos com café e chá, após ter visto os linhos da Rebecca.
Optei por não bordar no linho tingido, estando a bordar numa peça que já tinha, semelhante às que adquiri hoje na Trapos e Rendas.
Estes dois linhos serão para futuros trabalhos.
O regresso ao ponto de cruz apontou-me a estante de livros para os quais há muito não olhava (farei um vídeo para partilhar alguns dos livros, semelhante ao deste livro). Viajando no tempo, sorri ao recordar uma exposição a que fui há anos e onde adquiri o livro que me ensinaria parte da História do ponto de cruz e de onde retiro os seguintes excertos:
Ao londo da vida muito bordou (...) E sempre o seu pensamento voou de lembrança em lembrança, de recordação em recordação. E à medida que o tempo avançava a sua imaginação tornara-se cada vez mais prodigiosa, cruzando fios, cores, tons, matizes e sobretudo cruzando a vida, o destino, o desconhecido. (...)
Tecer/bordar é realmente um trabalho lunar, pois para o executar é necessário reunir vários "ingredientes" comuns ao feminino.
Brandura para que os pontos saiam perfeitos. Paciência para que o tempo não seja um entrave. Sensibilidade ao jogo de tons e cores para que o trabalho surja harmonioso e com graça. Doçura para reiniciar cada dia o trabalho abandonado na véspera. Persistência para não se deixar abater pelo cansaço e levar a acabo o trabalho começado.Interioridade para que a brandura, a paciência, a sensibilidade, a doçura e a persistência activem a prodigiosa imaginação, para que esta "re-crie" continuamente formas arquétipicas existentes na sua memória ancestral. (...)
E ela tinha também mais uma vez bordado as suas margaridas...Afinal com elas tinha tecido o seu destino...":
E os dedos corriam sobre o pano cruzando o fio á esquerda e à direita, tirando efeitos mágicos com as matizes dos diversos tons, enquanto o pensamento voava para longe. Novamente a agulha oi enfiada e o trabalho recomeçado ao ritmo dos pensamentos e recordações dos seus muitos encontros com o destino.
No mesmo livro há referências às camisolas Poveiras:
As de cor castanha, mais adequadas às árduas fainas do mar, agasalhando e protegendo o pescador constituíam parte da roupa de polé, isto é, de trabalho. As brancas pelo contrário, decoradas com desenhos alusivos à temática piscatória e marítima, estavam reservadas para serem usadas em terra, em ocasiões especiais.
Quem começou a bordá-las a ponto de cruz? Possivelmente, segundo Santos Rocha, os velhos Lobos do Mar, que também marcavam outras peças de vestuário. Posteriormente foram as mulheres (...) começaram a dedicar-se a bordá-las, aparecendo, então, desenhos muito belos, bordados (...)
Um dia quero fazer uma camisola Poveira, provavelmente para a minha afilhada Leonor, uma apaixonada pelo mar e barcos.
A propósito de malha, a Rebecca, também tem um gosto muito semelhante ao meu, tendo tricotado algumas peças que também já tricotei. Estarei atenta às suas escolhas que, no futuro, poderão também ser as minhas escolhas.
Outra podcaster que há anos me cativou e influenciou, quer na malha, quer noutros trabalhos de mão, foi a Sarah. Faço das suas palavras, do último episódio, as minhas palavras, quando diz que a criatividade conecta tempo e espaço. Nem mais!