sexta-feira

Refletindo para encontrar um foco

 

Procurei, olhando para o ano que passou, aquilo que esteve sempre presente nos meus dias, aquilo que deu sentido aos momentos vividos, suavizou as dores e aconchegou o meu coração. Foi aí que a resposta em forma de palavra, FAMÌLIA, se revelou em força gritando em plenos pulmões "Estou aqui!". Os laços de afeto que nos unem foram, e continuam a ser, aquilo mais valorizo e quero preservar, a minha âncora a uma vida sentida e com sentido.

Com essa confirmação do que é mais importante para mim, questionei-me: o que me mantém serena, e até feliz, quando estou sozinha? Quando não estou rodeada pela família, sinto-me bem desfrutando de pequenas coisas: as minhas agulhas, os meus livros, a música, o meu jardim, o mar e a minha Serra.



Concluí que aquilo que me faz feliz são as paixões que desenvolvi na infância. Cresci numa família de quatro irmãos onde o amor e a harmonia, que os meus pais nos ensinaram a valorizar, se misturavam com as pequenas  e infinitas discussões do dia a dia: quem ia à janela no carro, do quarto ao lado o rádio amador do meu irmão resultava sempre em abrir e fechar portas com reclamações ruidosas, os jogos que invariavelmente terminavam com disputas de quem seria a vitória, a ordem de ida para o banho, quem ía preparar o lanche nas pausas das tardes de estudo e por aí fora. De fundo tínhamos, entre os voos do meu pai, a sua música, linhas de compasso a preencher a  pauta familiar. Esses momentos, por vezes caóticos, numa lista sem fim de arreliações, com algumas fúrias da minha parte, birras que invariavelmente terminavam comigo escondida debaixo da cama, ajudaram-nos a crescer e a construir laços de verdadeiro afeto e respeito entre irmãos.

Mas também havia um lado mais quieto e silencioso em mim. Lembro-me de como gostava de me isolar no meu (ou melhor, no nosso) quarto, de criar o meu pequeno mundo: brincar às escolas, ler tranquilamente, tricotar a minha primeira camisola de malha, bordar pequenas meninas num lençol para as bonecas, fazer arraiolos ou preencher o meu caderno de lavores para a disciplina de Trabalhos Manuais. Havia uma magia nesses momentos solitários, por vezes,  acompanhados pela música que me fazia sonhar... e até pela escrita, que sempre foi a minha companheira.

Agora, ao iniciar um novo ano, decidi focar as minhas rotinas diárias naquilo que sempre me fez bem e feliz: a família e os meus momentos tranquilos de criatividade.

Assim iniciei o Novo Ano retomando o painel The Prince, um projeto que me permite ser mais criativa do que a malha. A primeira flor do ano foi feita com tecidos que herdei da avó Pessanha – um pedaço de história que guardo com carinho. As restantes flores foram e vão surgindo de tecidos que fui colecionando.

Este ano, espero ter  disponibilidade e estabilidade emocional para começar uma manta com as camisas do meu pai. Sei exatamente o que quero fazer, mas sinto que ainda não chegou o momento certo. Algumas ideias precisam de um sentir interior diferente antes de ganharem vida nas mãos.

 Neste primeiro mês do ano espero conseguir ter vontade para terminar os projetos de malha que estão em fase final. Pensei em terminar 2024 concluindo todos os projetos de malha, limpando as minhas agulhas, mantendo apenas um par com a camisola que faz parte do KAL da Susan. Não me foi possível, pois dediquei o meu tempo aos coletes para o Batizado do Vasco, às toalhas de Batismo do Vasco e do Francisco e a bordar a vela do Francisco. O melhor é não fazer planos com data marcada uma vez que planos são isso mesmo, apenas planos, mas assim que traço uma linha de tempo em cima das minhas agulhas, a ansiedade desponta logo, tropeço e não consigo seguir essa linha temporal. Este ano o meu foco em termos de trabalhos manuais vai ser em desfrutar o processo e não me preocupar com produto final e data de conclusão. 

Quanto a este espaço, continuarei por aqui a partilhar o processo dos meus trabalhos manuais, os livros que leio e tudo o que surgir na ponta dos meus dedos e se derramar sobre o meu teclado.

Sem comentários: