terça-feira

Escutar e folhear Miss Austen


Celebrando os 250 anos de Jane Austen procuro escutar e ler o que ainda não conheço. O mais recente audiobook Miss Austen, que escutei enquanto fazia malha, deu-me imensa vontade de voltar ao patchwork.

Retirei algumas passagens do livro, na Fnac, onde diz "folhear" , que aqui partilho, como uma justificação da vontade que tenho de retomar EPP.

"(Cassandra) She tucked in her feet, opened her valise and took out her work. How useful it was to sew, to fuss about with a needle, to keep your eyes on the stitch. It was always her armour in difficult situations, the activity itself a diver sion from the awkwardness of the company. She often wondered how men managed, without something similar. Although it did seem that they were so less often stuck for words. She had only brought with her patchwork. Her eyes were no longer good enough for anything finer by lamplight. ‘Do you not have work, Isabella dear?’ She slotted the paper behind the shape of sprigged cotton 12 and started to stitch around. ‘Nothing with which you are busy?’ Isabella, staring into the fire, shook her head. ‘I was never terribly good at that sort of thing.’ Cassandra, who could patchwork with her eyes closed, looked up with some surprise.

(...)  She began to pack away her work. Isabella’s new-found loquacity had quite seen off the evening. At last it was an hour at which they could respectably retire

A realidade é que gosto de sonhar e viajar com as leituras que faço e, como tal, tenho de me identificar com as personagens e até mesmo com locais que quero visitar ou que já tenha visitado. Talvez por isso tenha sido de difícil leitura O Ateliê dos Recomeços, talvez por ser de uma autora coreana ou simplesmente porque ando adoentada e cansada.

Desta leitura, apenas retive:
"Se calhar, só quando uma pessoa se tornava capaz de optar por descansar e definir o seu próprio ritmo é que tinha realmente crescido."
"Quem já provou a felicidade é quem desfruta mais dela (...) quanto mais reparares na tua felicidade, mais ela se torna tua."
"Por vezes, são as coisas que não conseguimos explicar que deixam os ecos mais distintos (...) estrelas cadentes e auroras – coisas que as pessoas se permitem amar sem necessidade de questionar o que as torna belas."

Sem dúvida que reconheço mérito na escrita de Yeon, com descrições lindíssimas do passar das estações e um paralelismo com o trabalho de um oleiro/ceramista e as pequenas grandes coisas de uma vida comum. Mas não me identifiquei com as jovens personagens, nem com as suas vidas.

Quanto à malha, o casaco que estou a fazer apenas com as sobras de projetos anteriores vai avançando, mas, infelizmente, está a ficar um pouco mais escuro, uma vez que restava pouco de cores vivas.

Influenciada pela Miss Austen, retomei o EPP com tecidos de William Morris.


No "quarto dos brinquedos", como apelidei o quarto que partilho com os meus  netos, de momento reinam os brinquedos da avó Sofia, os tecidos, as lãs, EPP, agulhas... 

sexta-feira

Malha e Jane Austen

Ainda sem botões.

Por lavar e esticar

Regressei em força à malha! Consegui terminar dois projetos antigos, (o colete Keris da Marie Wallin e o casaco da Kate Davies) estou quase a terminar a camisola Poppy e estou ansiosa para brincar com as cores das sobras de lã da Shetland, num casaco da Kate Davies. A ideia que tem estado presente, nestes últimos dias, é esforçar-me para usar aquilo que tenho, reduzindo os investimentos em lã e tecidos. É extremamente desafiante mas simultaneamente mais criativo, limitar-me ao que tenho em casa. Na realidade não tenho assim tanto, mas muitas sobras já fazem uma quantidade considerável de lã. 


Ensaiando combinação de cores numa mola, mas já abandonei a ideia de ir repetindo sempre com as mesmas cores. Não tenho fio que chegue! Estes ensaios dão-me gozo, mas conferem a falsa sensação de já estar a trabalhar num novo projeto

O entusiamo é tanto para começar o casaco Tonnach da Kate Davies, que tem sido difícil manter-me focada em terminar a Poppy. O que me tem ajudado é distrair-me com áudios, já que só me falta uma manga e é um trabalho muito monótono!

Hoje ouvi o mês de fevereiro do audio A Jane Austen Year. Regressei à casa Museu da Jane Austen que visitei há uns anos e lembrei-me do quanto eu queria replicar o quilt que a Jane fez com a mãe e, penso eu, com apenas uma irmã. Tentei adquirir o kit para a colcha, mas está sempre esgotado. Perdida em pensamentos, vou fazendo laçadas nas agulhas e magicando no que quero fazer. A minha mente é muito irrequieta e acho que é por isso que, às vezes, sou tão distraída!

domingo

Mais um exercício de escrita: balanço do 1º mês do ano.

 Começo por dizer que submeti o meu exercício de escrita ao chatGPT, para ter um "professor", corrigindo e avaliando a minha escrita. Partilho o resultado, com o comentário final de uma IA. Como professora tinha de experimentar a ferramenta!

Neste calendário, presente da minha filha Madalena, anoto todos os dias o que fiz de trabalhos manuais.

Janeiro foi simpático comigo, passou ao ritmo da estação, um inverno que consente descanso à natureza, um restaurar de forças para despertar vigorosamente na primavera. Em termos do meu físico, tentei fazer comigo o mesmo, mas tive alguns percalços! O colesterol que tinha de baixar ainda deve estar alto, e o peso que ganhei nas festas ainda está cá todo. Caminhadas? Se não estou enganada, não fiz nem uma! Tenho fevereiro para recuperar!


Para lá do bem-estar físico, as rotinas da escola, apesar do "pára, arranca, pára" de um final de semestre, alinharam-se com as rotinas da casa e da família, e consegui, praticamente todos os dias, um tempo para mim. No princípio do mês, fui mais criativa, de volta dos tecidos. Retomei e avancei bastante no painel The Prince e apliquei EPPs antigos num tecido da Tilda. Depois, influenciada pela Sarah, regressei à malha e quase conseguia terminar todos os trabalhos inacabados — sem contar com uma manta.

Ao casaco da Kate Davies faltam os botões, e acho que me vou arrepender de ter feito a altura recomendada e de não ter acrescentado mais uns centímetros. O colete da Marie Wallin, apesar de falhar em termos de detalhe de instruções, acho que vai acabar por ficar bem. A camisola Poppy, desconfio que vai ficar um bocado larga nas mangas. Mas, voltando à Sarah, que anda no meu radar (por coincidência tem um calendário igual ao meu!)! De tanto a Sarah falar Shetland e da qualidade única da lã, estou a pensar antecipar a viagem que queria fazer na reforma, já para este ano. Comigo levarei a Shetand Sweater que finalmente estreei, depois de lhe adicionar o ponto de cruz em branco!

Influenciada pela Sarah, adquiri mais um modelo da Kate Davies para utilizar as sobras que tenho do fio da Jamieson & Smith. Iniciarei só após terminar o que tenho em mãos. Como tudo na Sarah me cativa e convence, talvez faça mais um Ishbel com alguns novelos que sobraram de outros projetos e uma manta log cabin com todas as restantes sobras, ou mais um modelo da Kate Davies.

Em fevereiro, tentarei fazer malha ao serão e, durante o dia, dedicar-me ao patchwork e a um bordado que quero terminar ainda este mês.

Janeiro foi um mês pobre em leituras. Li apenas O olhar de Sophie, terminei Adeus para Sempre e iniciei O ateliê dos Recomeços . Literatura asiática, tal como eu receava, não me diz muito. É difícil seguir o enredo em termos de personagens por causa dos nomes e, quando utilizam alguns termos na língua de origem, a coisa ainda se complica mais. Não tem sido uma leitura fluída, ainda assim, estou curiosa.

Como cheguei a este livro? Por um clube de leitura que irá reunir-se em fevereiro na Biblioteca Municipal de Cascais. Com a mudança para o campo, para combater o isolamento, tento participar neste tipo de atividades culturais, inscrevi-me, também, num clube de teatro amador e participo em encontros de malha, embora não o faça há já algum tempo.

Graças à minha família, o isolamento nunca será um problema! Este mês, houve alguns aniversários, começou com o meu, tendo recebido uma medalha da Nossa Sra do Ar (a protetora dos pilotos, do meu Paizoco) e um álbum com fotografias desde 1965 até 2025! Falhei o aniversário da minha Compincha, mas terminei o mês em grande, celebrando a maioridade de mais dois sobrinhos gémeos, a Vera *e o Luís


"As correções foram principalmente ortográficas e de pontuação, garantindo uma leitura mais fluída. Se quiser manter algum detalhe original ou precisar de ajustes, é só dizer! 😊"

ChatGPT

Em vez de pedir ajuda, fiz eu os ajustes, passando para itálico tudo o que não era português e adicionando os links, para designers, marcas, modelos e remetendo para textos mais antigos meus. Nas correções e pesquisas reli:

* o que me inspira

DayBook do dia 2 de Fevereiro

A história da Maçã assada e a terapia dos pontos (um exercício de escrita)

Na casa dos meus pais, jamais podíamos dizer "Não gosto!" quando nos colocavam comida à frente. Aos meus filhos, ensinei – ainda muito pequenos – a dizerem "Não aprecio". Lembro-me da primeira vez que a mais velha dos três disse "Não aprecio". Os avós acharam uma delícia, riram-se, e a coisa ficou por ali.

Até há pouco tempo, maçã assada era algo que eu não apreciava, mas forcei-me a gostar porque, algures no tempo, alguém me disse que fazia bem aos intestinos. À semelhança do meu avô António, hoje esforço-me por comer quase tudo o que dizem ser bom para a saúde. Recordo-me que o meu avô não tocava em melancia até ao dia em que o meu pai, num tom de brincadeira, lhe disse que fazia bem à próstata. Nesse verão, passei uns dias com os meus avós, e a minha avó fazia questão de garantir, no final de todas as refeições, a presença da melancia na mesa.

Mas voltando à maçã assada. Da última vez que estive com o meu pai, a sobremesa foi... maçã assada. Brincámos como sempre: o meu pai insistia para que eu tirasse a casca, e eu respondia com aquilo que ele sempre nos dizia: "Não pode ficar nada no prato! É tudo para comer e não se diz 'Não gosto!'" Acabei por lhe fazer a vontade, tirei a casca após a primeira garfada. Mais tarde, ao falar com a minha mãe, ela comentou comigo,admirada: "Então não sabes que a casca da maçã assada é a única coisa que o teu pai nunca come mesmo?"

Hoje, ao almoço, o meu marido surpreendeu-me com maçã assada. Não podia não comer. Não podia deixar que as lágrimas me caissem. Agradeci o mimo e comi. Comi, mas deixei a casca. Foi a minha forma de sentir uma certa cumplicidade com o meu pai.

O meu coração ficou inquieto. Tentei encontrar paz no jardim, mas não consegui. Distrai-me com a visita dos meus filhos e netos, mas só voltei a sentir-me serena, ao serão, quando me isolei. Sentei-me, peguei nos meus materiais e comecei a aplicar círculos de tecido sobre tecido. Ponto a ponto comecei a serenar e a inquietação foi-se desvanecendo, conseguindo transformar a memória da história da maçã assada  nestas palavras escritas.

círculos para aplicar no painel The Prince, da Susan Smith


sexta-feira

Refletindo para encontrar um foco

 

Procurei, olhando para o ano que passou, aquilo que teve uma presença mais marcante nos meus dias, aquilo que deu sentido aos momentos vividos, suavizou as dores e aconchegou o meu coração. Foi aí que a resposta em forma de palavra, FAMÌLIA, se revelou em força gritando em plenos pulmões "Estou aqui!". Os laços de afeto que nos unem foram, e continuam a ser, aquilo que mais valorizo e quero preservar, a minha âncora a uma vida sentida e com sentido.

Com essa confirmação do que é mais importante para mim, questionei-me: o que me mantém serena, e até feliz, quando estou sozinha? Quando não estou rodeada pela família, sinto-me bem desfrutando de pequenas coisas: as minhas agulhas, os meus livros, a música, o meu jardim, o mar e a minha Serra.



Concluí que aquilo que me faz feliz são as paixões que desenvolvi na infância. Cresci numa família de quatro irmãos onde o amor e a harmonia, que os meus pais nos ensinaram a valorizar, se misturavam com as pequenas  e infinitas discussões do dia a dia: quem ia à janela no carro, do quarto ao lado o ruído do rádio amador do meu irmão resultava sempre num abrir e fechar  de portas com reclamações ruidosas, os jogos que invariavelmente terminavam com disputas de quem seria a vitória, a ordem de ida para o banho, quem ía preparar o lanche nas pausas das tardes de estudo e por aí fora. De fundo tínhamos, entre os voos do meu pai, a sua música, linhas de compasso a preencher a  pauta familiar. Esses momentos, por vezes caóticos, numa lista sem fim de arreliações, com algumas fúrias da minha parte, birras que invariavelmente terminavam comigo escondida debaixo da cama, ajudaram-nos a crescer e a construir laços de verdadeiro afeto e respeito entre irmãos.

Mas também havia um lado mais quieto e silencioso em mim. Lembro-me de como gostava de me isolar no meu (ou melhor, no nosso) quarto, de criar o meu pequeno mundo: brincar às escolas, ler tranquilamente, tricotar a minha primeira camisola de malha, bordar pequenas meninas num lençol para as bonecas, fazer arraiolos ou preencher o meu caderno de lavores para a disciplina de Trabalhos Manuais. Havia uma magia nesses momentos solitários, por vezes,  acompanhados pela música que me fazia sonhar... e até pela escrita, que sempre foi a minha companheira.

Agora, ao iniciar um novo ano, decidi focar as minhas rotinas diárias naquilo que sempre me fez bem e feliz: a família e os meus momentos tranquilos de criatividade.

Passagem de Ano, os 4 manos e a Mãe

1 de Janeiro com filhos e 3 dos 4 netos. 

Assim iniciei o Novo Ano, em família e, no serão do dia 1, retomando o painel The Prince, um projeto que me permite ser mais criativa do que a malha. A primeira flor do ano foi feita com tecidos que herdei da avó Pessanha – um pedaço de história que guardo com carinho, da mãe de um rico e numeroso cardume. As restantes flores foram e vão surgindo de tecidos que fui colecionando.

Este ano, espero ter  disponibilidade e estabilidade emocional para começar uma manta com as camisas do meu pai. Sei exatamente o que quero fazer, mas sinto que ainda não chegou o momento certo. Algumas ideias precisam de um sentir interior diferente antes de ganharem vida nas minhas mãos.

 Neste primeiro mês do ano espero conseguir ter vontade para terminar os projetos de malha que estão em fase final. Pensei em terminar 2024 concluindo todos os projetos de malha, limpando as minhas agulhas, mantendo apenas um par de agulhas com a camisola que faz parte do KAL da Susan. Não foi possível, pois dediquei o meu tempo aos coletes para o Batizado do Vasco, às toalhas de Batismo do Vasco e do Francisco e a bordar a vela do Francisco. O melhor é não fazer planos com data marcada uma vez que planos são isso mesmo, apenas planos, mas assim que traço uma linha de tempo em cima das minhas agulhas, a ansiedade desponta logo, tropeço e não consigo seguir essa linha temporal. Este ano o meu foco em termos de trabalhos manuais vai ser em desfrutar o processo e não me preocupar com produto final e data de conclusão. 

Quanto a este espaço, continuarei por aqui a partilhar o processo dos meus trabalhos manuais, os livros que leio e tudo o que surgir na ponta dos meus dedos e se derramar sobre o meu teclado.